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Três intervenções políticas

O discurso de Vladimir Putin, se não erro, devia ter já tido lugar há uns dias, nos termos do legalmente estabelecido. Por razões circunstanciais, só agora teve lugar. Foi, como se percebeu, um discurso sobre o estado da Federação Russa, expondo as causas de se ter chegado aqui, mas por igual apontando um conjunto de caminhos, e de decisões, com vista ao futuro.

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A presente semana foi pródiga em intervenções políticas de grandes líderes mundiais, como se deu com Joe Biden, ontem na Ucrânia e hoje em Varsóvia, e com Vladimir Putin, hoje mesmo em Moscovo. Foram três intervenções distintas, proferidas à luz de objetivos diversos, embora ligadas entre si.

A intervenção de Joe Biden na Ucrânia teve como significado central a remarcação do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, que se constitui numa realidade já muito antiga e sempre marcada com um objetivo estratégico. De resto, há muito que a liderança russa conhecia esta realidade, acabando, por via do desenvolvimento da mesma, por ter de recorrer à grande batalha da Ucrânia, que continua a decorrer.

Quem tenha tido a oportunidade – e o interesse – de acompanhar, diariamente, o sítio SPUTNIK, entretanto censurado no espaço da União Europeia, sabia que eram constantes as tentativas norte-americanas com a finalidade de criar as bases para um afastamento face à Federação Russa. Um afastamento que depois permitiria uma escalada que poderia ser levada a alguma nova situação de vantagem para os Estados Unidos. Tais bases passam, precisamente, pela utilização do território da Ucrânia. O que, de resto, estava já em franco andamento, para o que convém recordar os 16 – ou 18? – laboratórios de virologia, destinados a produzir vírus, a serem inoculados em pombos-correio, depois lançados para o território da Federação Russa, onde contaminariam solos e animais terrestres, mormente os comestíveis. Neste sentido, os Estados Unidos sempre souberam que os Estados europeus seriam um pouco como plasticina política. É o que a História sempre mostrou. E o mesmo acabaria por ter lugar com as suas Nações Unidas.

Neste discurso em Kiev convém prestar atenção à notícia, falsa ou verdadeira, de que Joe Biden terá dito a Zelensky que sobre caças se falaria mais tarde. Mas será interessante vir a conhecer o que irá ser decidido pelos Estados Unidos neste domínio, porque Biden já disse que caças não. Portanto, se vier a mudar de posição, irão os nossos jornalistas e comentadores dizer o que sempre dizem de Vladimir Putin, ou seja, que o que diz não conta, porque pode manter-se ou mudar? Cá fico à espera.

Em contrapartida, o discurso de Vladimir Putin, se não erro, devia ter já tido lugar há uns dias, nos termos do legalmente estabelecido. Por razões circunstanciais, só agora teve lugar. Foi, como se percebeu, um discurso sobre o estado da Federação Russa, expondo as causas de se ter chegado aqui, mas por igual apontando um conjunto de caminhos, e de decisões, com vista ao futuro.

Pareceu-me um discurso deveras certeiro, historicamente correto, e que mostrou ser Vladimir Putin um verdadeiro estadista. Foi, acima de tudo, um discurso dirigido ao povo russo, mas contendo dados explicativos para quem, no mundo e com boa-fé, pretenda perceber as causas que atiraram a Federação Russa para a presente grande batalha da Ucrânia. Uma batalha que há muito teria visto o seu fim, não fosse o envolvimento da OTAN, sob a liderança dos Estados Unidos, no conflito. Quando se fala em vencedor ou perdedor, é essencial olhar-se para esta realidade simples e extremamente objetiva: a Federação Russa bate-se contra a OTAN, não apenas com a Ucrânia, que há muito foi derrotada, razão que a mantém a pedir ajuda constante e a todos.

E quando jornalistas e comentadores referem o apoio do povo ucraniano ao poder de Kiev, é conveniente não esquecer a brutalidade de ucranianos que rapidamente deixaram o seu país, e como falta hoje à Ucrânia gente para combater. Alguém dizia hoje que nestes dias começaram a tocar campainhas em Kiev e nas capitais dos Estados da OTAN, o que mostra o estado de hecatombe em que se encontram as tropas de Kiev, manifestamente sem contingente militar capaz.

Um discurso que, ao contrário do ontem repetido à saciedade, não teve qualquer condicionamento forçado pela intervenção de Joe Biden em Kiev. Um erro natural por parte dos mil e um que, haja o que houver, estão sempre do lado americano e contra o russo. No fundo, aqueles que vão fazendo por esquecer os gasodutos do Báltico, o homicídio de um dos negociadores de Kiev, logo ao início, ou os naturais mil e um crimes de guerra, porventura também contra a Humanidade, por parte das tropas ucranianas.

Por fim, o discurso de Joe Biden em Varsóvia. Foi um discurso muito bem entroncado no objetivo estratégico dos Estados Undos, e desde sempre: enfraquecer, secundarizar e, se possível, desmantelar a Federação Russa. Uma realidade já muito antiga, desde o tempo soviético, onde pontificaram figuras sinistras como Curtis LeMay e Barry Goldwater. Entre muitas outras.

Necessitando de um argumento de aparência forte, Joe Biden deitou mão da luta das democracias contra as autocracias. Trata-se, porém, de uma treta política, porque a situação interna dos Estados Unidos, como as anteriores eleições permitiram perceber, não é a de uma democracia. O próprio Joe Biden teve já a oportunidade, como Presidente, de referir a prática republicana de mudar lugares de votação em função das expectativas para os republicanos, ou a ausência de direito universal ao voto. E nunca se deverá esquecer o real significado social do que se passou no Capitólio, ou as declarações de hoje de certa senadora republicana, defendendo um divórcio (constitucional) entre Estados democratas e republicanos, atitude que já está a determinar que se fale de uma possível nova guerra civil a médio prazo…

Termino com esta pergunta, sobretudo para o leitor: ao que irá ser sujeita a nossa juventude se tudo isto vier a desembocar numa catástrofe bem mais vasta…? É que o Governo, com frequência diária, diz que o leitor apoia o que vier a ser preciso… Ainda não percebe?

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