Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

“Solidão” poema de Carlos d’Abreu

Poemário, rúbrica de Carlos d’Abreu, raiano do Douro Transmontano (1961), Geógrafo (USAL/UC), Arqueólogo (UP/USAL) e Historiador (UPT/USAL), colaborador do Centro de Literatura Portuguesa (UC); investigador, poeta (e diseur), antologista e tradutor; conta com várias publicações nestas áreas.

1.970

"Solidão"

Solidão Ão ão
Ladro a esta companheira
e faço-o por antecipação
mesmo sabendo que cairei na ratoeira
para a qual ela de supetão me empurrará

O ardil é a escrita, não digo poesia,
digo escrita, em geral descrita
como fatalidade, como resignação

A escrita são palavras,
umas chochas outras gradas,
manifestações verbais que entretêm o solitário
é exercício que anestesia
e ameniza a ocasião escura e fria

Não haverá compenetração
sem retiro ou mesmo clausura,
apenas apócrifa e erma vastidão

Ladro à solidão merencória e pesarosa
mas procuro o momento, a sós, inspirador
À outra digo: Não!

E com ela embarco e retomo a busca
incessante, esgotante, castradora
esperando mais um naufrágio…

Mas enquanto e não
ladro também ao vento
ão ão ão
pode ser que ouça lamento
de canita à deriva como eu

Carlos d'Abreu

``Solidão``Poemário de Carlos d'Abreu
{{svg_share_icon}}

“Solidão”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga

Publicidade