Sinais Inequívocos
A verdade é que Marta Temido teve uma imagem muito positiva, mormente na sequência do combate à COVID-19, o que até levou o líder do PS, António Costa, a mostrá-la como nova militante.
Era já madrugada alta quando, a pedido de minha mulher, nos levantámos, a fim de tomar certo medicamento seu. Já deitada, e como normalmente, lá dei uma olhadela pelos nossos canais televisivos, neles encontrando a imagem de Marta Temido. De pronto depreendi que algo de novo se teria passado com Marta, podendo variar do desastroso, ao de uma saída da governação. Felizmente, era este o caso.
Por um acaso, foi uma mui feliz decisão de Marta Temido, logo aceite pelo Primeiro-Ministro, António Costa, que de imediato comunicou a decisão ao Presidente da República. E foi uma acertadíssima decisão, porque Marta Temido nunca deverá ter tido o grau de liberdade para realizar o óbvio, mas que, de modo bem evidente, nunca surgia. E não podia ser por uma qualquer incompetência sua, porque a decisão era simplesmente elementar.
Como os mais interessados conhecem bem, o Ministro da Saúde executa a política do Governo para a área da Saúde. É, como os restantes colegas de Governo, um prolongamento do pensamento e da decisão do Primeiro-Ministro. Em todo o caso, como no-lo diz um histórico ditado popular digno de registo, não se podem fazer omeletes sem ovos.
No caso de Marta Temido existiam diversos corpos agressivos: era mulher, era competente, dominava as matérias que tinha sob sua responsabilidade, mas não dispunha do número de ovos essencial à elaboração da omelete que se impunha e que ela tão bem conhecia. E depois, teve a coragem de operar as mudanças que logicamente se impunham na Lei de Bases da Saúde, que logo se transformou no grande aríete dos que, desde sempre, tentaram pôr um fim no Serviço Nacional de Saúde.
A verdade é que Marta Temido teve uma imagem muito positiva, mormente na sequência do combate à COVID-19, o que até levou o líder do PS, António Costa, a mostrá-la como nova militante: era, ao tempo, uma vencedora e uma mais-valia para o PS de António Costa. Simplesmente, existia o apetitoso Serviço Nacional de Saúde, em tão boa hora criado por António Arnaut.
Como muito bem costuma referir o PCP – é a verdade, resultante da evidência –, o que importa não são as pessoas, mas as políticas. E o que hoje se constitui já num sinal inequívoco é que o PS de António Costa estará a dar passos decisivos pôr um fim no Serviço Nacional de Saúde. De resto, e como há dias referi, nem foi o PS a criar esta estrutura, mas sim o mui humanista António Arnaut. O problema da falta de solução não esteve nunca em Marta Temido, mas sim em António Costa, porque só ele poderia recusar a solução evidentíssima há tanto referida por mil e um.
No meio de tudo isto, Álvaro Beleza, militante do PS, mas objetivamente da sua ala mais à direita. A sua presença na liderança da SEDES mostra que poderia estar, como a melhor movimentação, no PSD de Luís Montenegro, ou seja, no PSD de sempre. De um modo consistente, Álvaro Beleza não para de surgir na grande comunicação social, sempre brandindo o tal estudo global para o futuro de Portugal. E, estando filiado no PS, o estudo é logo apresentado com uma grande credibilidade pelos mil e um adversários de Marta Temido e do Serviço Nacional de Saúde, tal como constitucionalmente estabelecido.
Pois, é já amanhã que Álvaro Beleza nos irá surgir na GRANDE ENTREVISTA, onde nos irá explicar que Marta Temido é excecional, mas que não foi bem compreendida. E não ficarei admirado se Álvaro Beleza vier a suceder a Marta Temido, de modo a poder aplicar o tal programa milagroso da SEDES, agora no setor da Saúde. Acabará, de facto, o Serviço Nacional de Saúde, surgindo o Sistema Nacional de Saúde. E, como há muito se pretende, quem quiser médico que pague. Se não tem, bom, sempre poderá recorrer ao setor social. Um verdadeiro regresso a uma modernização das estruturas do Estado Novo.
Termino, pois, com um dado que há muito venho salientando: estamos a caminho de uma crise social forte, até porque as políticas do atual Governo de António Costa estão longe de ser entendidas por quase todos. Como normalmente, esta crise social será resolvida por meio de eleições.
Será o tempo de António Costa deixar a liderança do PS, passando a poder tentar materializar a sua saída para um cargo político internacional. O Serviço Nacional de Saúde lá terá o seu fim e pela mão do PS, com os portugueses deitados à sua sorte. Um triste e revoltante fim para a tão humana e essencial obra política de António Arnaut. Mas vamos esperar um pouquinho mais.
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