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Riscos Eleitorais

Os riscos eleitorais nos dias que passam são muito elevados e estão a crescer, dado que o triunfo neoliberal e a globalização retiraram valor à decisão dos cidadãos, ou seja, à importância da democracia.

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As eleições cuja campanha eleitoral se está agora a desenrolar, e prestes a acabar, vieram mostrar, desta vez de um modo mais claro, alguns riscos que se encontram presentes num qualquer processo eleitoral, mas que estão a crescer, e mesmo por todo o mundo. Objetivamente, o triunfo neoliberal, perante a pobreza crescente que varre o Planeta, gerou uma forte relativização no valor da democracia, destruindo a imagem que vinha de antes. Vejamos, então, alguns dos riscos eleitorais dos nossos dias.

Em primeiro lugar, à medida que se tem vindo a operar a desertificação do País, é quase certo que terá de estar a crescer o velho mecanismo da cacicagem. Um mecanismo tanto mais forte quanto mais pequeno é o aglomerado social, voltando a pontificar aí as históricas forças sociais de sempre, ou desde há muitas décadas. Em todo o caso, é um mecanismo com efeitos limitados no tipo de eleição que se aproxima.

Em segundo lugar, o voto por correspondência, que pode comportar alguns riscos, por muito cuidado que possa tributar-se-lhe por parte das autoridades competentes. É um risco pequeno, mas não nulo. E pode até acontecer que o mesmo se venha a tornar mais fortemente crescente.

Em terceiro lugar, o terrível perigo do voto eletrónico, em tempos tão defendido por Manuela Ferreira Leite, num seu programa da TVI 24, em que intervinha só. Hoje, é já indubitável que tal mecanismo de votação comporta terríveis riscos de batota, para lá de, em minha opinião, poder mesmo afastar os eleitores da consciência do dia eleitoral, sendo algo de complicado para os mais velhos, longe das técnicas informáticas. Um fantástico risco…

Em quarto lugar, o mecanismo das sondagens, que podem comportar estratégias previamente solicitadas, até à indução da ideia de que certo candidato é melhor, ou vai ganhar, ou não passa da cepa torta. É um domínio em que, em minha opinião, se deverá, no futuro, proibir a respetiva publicação de resultados durante a campanha eleitoral. De resto, a experiência mundial há muito mostrou o cabal falhanço deste mecanismo.

E, em quinto lugar, os programas de entrevista e de comentário ao redor dos programas das diversas forças concorrentes. A verdade, inequívoca, é que as eleições são uma relação entre eleitores e candidatos, pelo que o essencial é expor aos primeiros, com o detalhe que cada partido considere essencial, os programas correspondentes, pondo um ponto final nos naturalmente enviesados e tendenciosos comentários – acertou em cheio Pedro Silva Pereira, ao redor do que se tem podido ver na CNN Portugal, ao nível dos seus comentadores –, mantendo os debates entre os diversos candidatos, mas previamente gravados, a fim de impedir as constantes interrupções de arruaceiros, com os moderadores a calarem-se nuns casos e fazerem de tal noutros.

Os riscos eleitorais nos dias que passam são muito elevados e estão a crescer, dado que o triunfo neoliberal e a globalização retiraram valor à decisão dos cidadãos, ou seja, à importância da democracia. A verdade é que parar este comboio de desvirtuamento eleitoral pode já não vir a ser possível. Enfim, veremos.

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