Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

Pois claro, um dia…

A chave para o êxito dessas conversações seria a garantia da Ucrânia de que, pelo seu lado, a Rússia nunca viria a ver a sua segurança colocada em risco. Poderia mesmo criar-se uma comissão mista de acompanhamento do acordo conseguido, em situação de paridade, e presidi-da por um mediador credenciado perante as duas partes.

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O debitar informativo constante das nossas televisões permite-nos receber informações verdadeiramente espantosas. Uma destas informações foi-nos dada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, a cuja luz a Rússia não está verdadeiramente interessada em negociações de paz.

Esta afirmação vale o que vale, mas há um dado que é certo, e até já foi abordado pelo nosso embaixador Fernando de Oliveira Neves: esta guerra podia ter sido evitada, para tal bastando que o Ocidente – os Estados Unidos, portanto – se tivessem determinado a conversar com a Rússia, a fim de acalmarem os seus receios em face do avanço constante das fronteiras da OTAN. Que o Presidente Vladimir Putin, tal como o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, o tentou, pois não restam dúvidas, mas a verdade é que os Estados Unidos sempre recusaram abordar o tema.

A Rússia terá tentado, mas como ponto de partida para as conversações sobre o tema, que a realidade política do Leste da Europa recebesse as mudanças por si consideradas essenciais. Tratava-se, porém, de um ponto de partida, um mero ponto de vista, mas que apenas necessitava de garantias de ausência de qualquer risco de agressão por parte da OTAN, o que nunca se conseguiu, dado que os Estados Unidos recusaram conversar e logo à partida.

É aqui essencial recordar que, ao tempo da Guerra do Iraque – a da mentira de Estado sobre as armas de destruição maciça do Iraque –, houve políticos norte-americanos proeminentes que se deitaram a abordar a possibilidade de disporem os Estados Unidos da capacidade para operarem duas guerras em dois teatros de operações muito distantes – Médio Oriente e Pacífico, por exemplo –, e de modo simultâneo. No fundo, a demonstração de um gosto genético pela guerra, agora a poder ser utilizada para continuar a dominar o mundo de um modo unilateral.

Ora, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia simplesmente não tem razão, porque só poderia tê-la se o Presidente Zelensky se determinasse a apresentar ao mundo esta posição: sem exigências prévias, aceitará iniciar conversações destinadas a resolver o atual conflito entre o seu país e a Rússia, falando diretamente, sem limites de tempo, com o seu homólogo russo.

A chave para o êxito dessas conversações seria a garantia da Ucrânia de que, pelo seu lado, a Rússia nunca viria a ver a sua segurança colocada em risco. Poderia mesmo criar-se uma comissão mista de acompanhamento do acordo conseguido, em situação de paridade, e presidi-da por um mediador credenciado perante as duas partes. Por exemplo, o Papa Francisco, ou um cardeal por si indicado. Ou o Secretário-Geral das Nações Unidas, ou o líder turco, ou o seu homólogo chinês, ou o indiano. A partir daqui tudo se situaria na base da boa-fé e da cria-tividade diplomática e geopolítica.

Perante isto, surge-me esta pergunta, especialmente destinada ao leitor atento e interessado: a quem não conviria um tal caminho de busca de uma solução para a grande batalha da Ucrânia? Custando-me acreditar que a Rússia pudesse negar um tal caminho, já tenho as máximas dúvidas sobre tal posição por parte do Reino Unido, da Polónia, Lituânia, Estónia e Letónia. E já agora: por que razões não propõe o Presidente Vladimir Zelensky o iniciar de conversações sem agenda prévia e nas condições por mim antes referidas?

Por fim, a resposta do coronel José Henriques a certo jornalista da CNN Portugal: a Rússia terá de perder esta guerra, porque se a vencesse, mesmo sem poder levá-la a outros Esta-dos da Europa de Leste neste momento, fá-lo-ia um dia!!!

Bom, caro leitor, as nossas televisões consentem respostas deste quilate. Não chega à leitura de uma bola de cristal, mas à de uma constituída por vidro translúcido… Uma explicação que ilustra bem as razões que levaram a Rússia a proceder como se tem vindo a ver e a compreender como o Ocidente, de facto, não deseja a paz. Pelo contrário: continua a sonhar com o desmantelamento da Rússia, a fim de, por aí, poder esmifrar, tanto quanto possível, as riquezas assim colocadas à sua disposição.

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