O novo barrete
Imagine agora o leitor que as nossas próximas eleições para deputados à Assembleia da República conduziam a uma vitória do PCP com 57% dos votos validamente expressos. Será que acredita que um tal cenário mereceria o respeito democrático dos Estados Unidos e das suas filiais europeias? Claro que não!
Sem que se possa considerar estranho, aí nos surgiram as novas manifestações de cubanos contra o regime vigente, pedindo liberdade e, acima de tudo o mais, melhores condições de vida. Não duvido, por um segundo, que tais manifestações têm duas causas: o desencanto com a evolução das condições de vida em Cuba, e a mão oculta dos Estados Unidos, para mais agora, com os democratas na Casa Branca.
Claro está que a primeira realidade também depende da segunda, posta em prática desde há décadas e por via da brutalidade com que o poder norte-americano sempre trata os que pretendem viver, tanto quanto é possível, um o nível de vida melhor e uma mais real independência nacional. Realidades mais que conhecidas e descritas, mas que o avanço geracional como que vai obliterando.
Não deixa de me causar estranheza, mesmo hoje, já à beira dos meus 74 anos, o modo como estes cubanos – já nem conto os que atuam a soldo dos Estados Unidos…– ainda conseguem, depois do que sempre se soube no Médio Oriente, ou no subcontinente americano, ou mesmo com a atitude norte-americana para com a União Europeia e os seus Estados, acreditar que uma democracia autêntica – o que é que isto é? – lhes trará (mas a todos!) um melhor nível de vida. E nem por um minuto lhes ocorre que a situação que vivem se deve, precisamente, à ação dos homens da tal mão oculta, com que levaram a miséria, a pobreza, a guerra e a exploração aos povos de quase todo o mundo. Basta olhar o caso das vacinas, cuja luta pela globalização se deve apenas ao risco que a sua falta possa acarretar para a máquina de produção capitalista.
Imagine agora o leitor que as nossas próximas eleições para deputados à Assembleia da República conduziam a uma vitória do PCP com 57% dos votos validamente expressos. Será que acredita que um tal cenário mereceria o respeito democrático dos Estados Unidos e das suas filiais europeias? Claro que não! Num ápice, começaria o cerco e a marginalização de Portugal e dos portugueses. E da União Europeia, tal como das Nações Unidas e da Igreja Católica, o que surgiria seriam atos concomitantes.
Escrevi um dia o que pensei ser uma evidente realidade: a democracia é uma ilusão, mas que funciona. Uma realidade que penso dever receber esta atualização: a democracia é uma ilusão, mas que vai funcionando cada dia pior. A verdade é que, como agora se volta a ver, alguns cubanos ainda não perceberam esta realidade. Regressar aos tempos, com a devida atualização, de Fulgêncio irá custar aos cubanos os olhos da cara. Uma realidade que me permite deitar aqui mão de certa saída histórica de Adelino Amaro da Costa: o direito à asneira é livre. A democracia ora pedida por aquela gentalha, que nos chegou por via das imagens televisivas, transformar-se-á, num ápice, num atualizado regresso ao passado.
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