O Doce…
Claro está que, vindo da SEDES, o estudo ora apresentado teria de ser deste tipo, neoliberal. Desta vez, porém, surge com a instituição encimada por um militante do PS, mas que bem poderia estar no PSD de Pedro Passos Coelho.
Lá surgiu, finalmente, o tal estudo global da SEDES, que indicará, no dizer do líder da instituição, o caminho da vitória. Mas um caminho que é o verdadeiro, o legítimo, mesmo o único capaz de conduzir Portugal para a zona dos patamares mais desenvolvidos do espaço europeu. No mínimo, claro está.
Interessante foi escutar de Álvaro Beleza que, como sempre entre nós, o que se fez foi simplesmente olhar, decalcar e aplicar ao caso português. Uma atitude muito antiga, repleta de provincianismo, mostrando-se incapaz de realmente inovar, melhorando o ótimo que já se conseguiu, mas fugindo a cópias do que não é reprodutível.
Esta atitude foi a de sempre por parte da velha oposição ao regime constitucional da II República, que sempre apontava o lá de fora como sendo o correto, esquecendo que cada povo tem uma história, muito condicionada pela geografia, e que deixou laços com efeitos longínquos. Situação incomensuravelmente mais difícil de mudar que o mosaico vegetal que cobre o País.
Ora, a SEDES tem, afinal, a solução para o caso do atraso português: depois de meio século a cantar loas à Revolução de Abril e à Constituição de 1976, propõe-se inovar com o que teve êxito noutras paragens, em face do atraso português atual. Lamentavelmente, Álvaro Beleza nem se dignou a olhar a posição relativa de Portugal em face dos Estados com que pode comparar-se desde sempre.
E se um dia, com Aníbal Cavaco Silva até conseguimos ultrapassar a Grécia, já hoje nos situamos, na escala relativa dos Estados de comparação, na mesma posição de sempre. Basta olhar o caso de Espanha, de França, da Alemanha, do Reino Unido, da Áustria, do Luxemburgo, etc.. Álvaro Beleza finge esquecer que as coisas são como são e que a História é a Geografia em movimento. Estamos onde estamos e somos, por isso, como nos conhecemos. Basta olhar o inenarrável choradinho dos fogos florestais, ou do SIRESP, ou da banca, ou do mau funcionamento do Sistema de Justiça, etc., etc..
Mas, afinal, o que propõe a SEDES de Álvaro Beleza? Pois, é simples: menos impostos, menos burocracia, mais apoios às empresas, maior facilidade na mobilidade laboral e mais coisas deste tipo. Simplesmente, tudo isto criará uma perda fortíssima de capital à disposição do Estado, que é o dinheiro que permite manter o acesso a cuidados de saúde, ao ensino e a uma vida minimamente capaz para os aposentados. No fundo, até sem grandes tentativas de escurecer a realidade, trata-se do programa neoliberal do terno Cavaco-Passos-Portas, ou seja, um programa neoliberal.
Claro está que, vindo da SEDES, o estudo ora apresentado teria de ser deste tipo, neoliberal. Desta vez, porém, surge com a instituição encimada por um militante do PS, mas que bem poderia estar no PSD de Pedro Passos Coelho. A uma primeira vista, sendo Álvaro Beleza um militante do PS, poderá surgir a ideia de que se trata [o programa] de algo da área socialista. Simplesmente, tal não passa de mera aparência. É, indubitavelmente, um programa neoliberal, onde o que conta são as empresas [os lucros], e só muito depois as pessoas. Naturalmente, coloca completamente de lado o que é mais importante para a enormíssima maioria dos cidadãos: a saúde, o ensino e as reformas e pensões. A ser aplicado um tal programa, será o fim do Estado Social e, com ele, o fim do próprio PS.
Vai agora o leitor poder ver como a Extrema-Direita, a Direita e todo o ambiente dos grandes interesses vão aplaudir, em uníssono, esta proposta (neoliberal) da SEDES. Em contrapartida, ainda que de um modo pouco claro, lá terá o PS de António Costa de ir dando uma no cravo e outra na ferradura. Ora, tudo isto recoloca esta questão: poderá António Costa deixar a governação para ir desempenhar funções no ambiente internacional? Pois, a resposta é simples: sim, pode. Mas como, se tanto o Primeiro-Ministro como o Presidente da República já asseguraram que tal não se iria dar? A resposta é igualmente simples: basta que se crie uma crise social forte, e que leve a uma dissolução da Assembleia de República, com a convocação de novas eleições. Numa tal circunstância, António Costa não será quem irá liderar a nova corrida parlamentar, ficando, deste modo, liberto no rumo a tentar dar à sua vida política. O mais certo, num tal cenário, será uma maioria da Direita e Extrema-Direita conseguirem a governação. E é por aqui que se porá um fim no Estado Social, sonho desde sempre vivido pela generalidade da Direita, pelos grandes interesses de sempre, e com o máximo beneplácito do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Depois, na peugada desta mudança, lá voltará o PS a não apresentar um candidato ao Presidente da República, acabando Henrique de Gouveia e Melo por chegar a Belém. Será, finalmente, o fim histórico-político da Revolução de 25 de Abril, que passará a ser substituída pelo 25 de Novembro.
Por fim, uma entrevista curta da nossa concidadã Ana Paula Garrett Lopes Carvalho, em certo programa da tarde da RTP 1: o meu primeiro vencimento foi de 11 contos e meio, mas era tudo muito melhor, podia-se comprar muito mais do que posso agora, apenas com menos de 700 euros. Simplesmente, Ana Paula não sabe desta fabulosa ideia da SEDES de Álvaro Beleza, porque quando a sentir, bom, quase com toda a certeza emigrará. No fundo, continuará a velha saga dos portugueses: procurar melhor por outras bandas. É que este estudo da SEDES, há dias apresentado por Álvaro Beleza, é um autêntico conjunto vazia político: só não ficará tudo na mesma, porque a maioria dos portugueses ainda ficará pior. Espero, pois, que os portugueses não se deixem levar por ideias que não são mais que verdadeiras ilusões. E quantas nos foram já vendidas desde há décadas?
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