Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

“Nocturna fronteira”, poema de Carlos d’Abreu

Poemário, rúbrica de Carlos d’Abreu, raiano do Douro Transmontano (1961), Geógrafo (USAL/UC), Arqueólogo (UP/USAL) e Historiador (UPT/USAL), colaborador do Centro de Literatura Portuguesa (UC); investigador, poeta (e diseur), antologista e tradutor; conta com várias publicações nestas áreas.

616

Nocturna fronteira

                    A Chus Sánchez Villasante

Larga é a noite
Do outro lado tu
Entre nós os montes
por onde ecoa a tristeza
da distância-fuligem
e da solidão-geada

Longe está agora a raia
Mais perto a fronteira
alçada p’ra desunir
o nosso país interior

Marcos são os teus olhos
da permeável fronteira
Contra(o)bando sou eu
que passo            a passo
sem passador-guia
vereda acima e trilho abaixo
circundando a serra
de mil sombras-lobishomens

Entro    saio    volto a entrar
e só tu sabes porque arrisco
só tu sabes porque insisto
em esperar a madrugada

Mil vezes caminho andei
mil vezes fiz caminho
Contornei      ludibriando
e derrubando furtei
todas as fronteiras
desde que ao cemitério fui
deixar carta a minha Mãe!

Carlos d'Abreu

``Nocturna Fronteira``Poemário de Carlos d'Abreu
{{svg_share_icon}}

“Nocturna Fronteira”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem:Jorge Abreu Vale

Publicidade