Lições a não perder
Deixo ao leitor, pois, o meu conselho de que visione aquelas duas entrevistas, porque elas explicam o que realmente se tem vindo a passar, e que conduziu ao que ainda se está agora a ver.
A balbúrdia hoje reinante na nossa grande comunicação social, com um relevo deveras especial para o setor televisivo, conferiu a duas entrevistas de ontem, ambas na RTP 3, uma importância verdadeiramente de assinalar. Juntas, valeram por quanto se tem vindo a ver e a escutar ao longo da mais recente crise interinstitucional, envolvendo o Presidente da República e o Primeiro-Ministro.
As duas entrevistas envolveram o académico Jorge Reis Novais, em que foi relativamente breve, já mesmo à beira das 19.00 horas, mas imensamente certeira e sumarenta. A segunda foi mais longa e desenrolou-se na GRANDE ENTREVISTA, com o causídico Manuel Magalhães e Silva, por onde nos foi dado perceber, até em termos comparativos, a má singularidade que vem marcando o modo de intervir, politicamente, do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Entre estes dois acontecimentos, que não devem deixar de ser vistos, desenrolou-se aquela cena da saída do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa do Palácio de Belém, a fim de jantar num restaurante das redondezas do Pátio das Damas, saboreando, depois, um gelado numa famosa casa deste tipo de acepipes. Bom, caro leitor, ao contrário do em mim usual, simplesmente não consegui perder-me a rir, antes ficando boquiaberto, dizendo em voz normal: porra, como é que isto é possível?! Uma reação que voltei a repetir ao tempo do regresso ao Palácio de Belém. A verdade é a que refiro atrás: fiquei boquiaberto. E interrogo-me, desde ontem e hoje de novo, sobre o que se porá, preto no branco, nas chancelarias dos Estados com melhores tradições no domínio do funcionamento institucional…
Destas duas intervenções de concidadãos ilustres e tecnicamente sabedores, por acaso também traquejados no ambiente em que se vêm desenrolando os folhetins postos no ar, por horas e dias, nas nossas televisões, podem retirar-se algumas conclusões claras, em geral não referidas pelos jornalistas e comentadores de serviço.
Em primeiro lugar, o Presidente Marcelo Rebello de Sousa, de um modo indiscutível, tem vindo a manter uma atuação de constante agitação ao nível do ambiente governativo. Foi assim quando classificou o atual Governo como requentado, e tem continuado a seguir esta tática ao manusear, sem lógica, os mais duros golpes que lhe são permitidos no plano constitucional.
Em segundo lugar, este modo popularucho de fazer política, com beijinhos e fotos, mas com a extraordinária vantagem de poder perorar, qual cientista político, sobre doutrina, mas sem ter de mostrar resultados. Como um concidadão nosso referiu, há um tempo atrás, fala muito bem, mas não resolve nada. E, de facto, o que acaba por criar é uma agitação crescente, de pronto aproveitada pela Direita, pela Extrema-Direita e por jornalistas e comentadores que têm que ir dizendo uma qualquer coisa. Estando em jogo um Presidente da Direita e um Primeiro-Ministro do PS, jornalistas e comentadores optam, claro está, pelo primeiro…
E, em terceiro lugar, a fantástica ideia de que os portugueses esperam do Presidente da República intervenções que acabam por se saldar num clima de instabilidade emocional, com cada um à espera do que poderá vir a dizer, e a fazer, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Haverá de compreender-se, pois, que um tal tipo de conduzir a função presidencial, para lá de nada resolver, acaba mesmo por acrescentar ruído, ansiedade e perturbação ao funcionamento interinstitucional e à capacidade de poder o Governo dar corpo ao seu programa de realizações nos anos para que o partido em jogo foi escolhido maioritariamente.
Deixo ao leitor, pois, o meu conselho de que visione aquelas duas entrevistas, porque elas explicam o que realmente se tem vindo a passar, e que conduziu ao que ainda se está agora a ver. E saliento aquela referência do causídico a um jornalista da RTP, por via de um seu comentário en passant, mas que é deveras elucidativo. E também o modelo previsional apresentado por Rui Calafate, na noite de ontem, na CNN Portugal, para o comportamento político do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a partir daqui. São duas imagens do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa muitíssimo elucidativas. Enfim, a não perder.
Publicidade