Liberdade Ocidental
É conhecido o modo como a União Europeia pouco ou nada tem ligado aos migrantes que fogem das agruras de uma vida que foi até criada, em grande medida, no seguimento da ocupação europeia na sequência dos Descobrimentos. Tudo isto seguido da escravatura, da discriminação racial e da exploração das riquezas desses territórios a que aportaram os europeus, como consequências dos seus conhecimentos e da sua coragem.
Cada um de nós conhece, do seu dia-a-dia, as constantes parangonas que nos surgem pelos canais televisivos sobre as liberdades no Ocidente, ao contrário do que se diz ter lugar nas autocracias.. Em boa verdade, trata-se de mero apregoar da letra de certa canção de entreter distraídos, para o que basta recordar, por exemplo, a censura nos Estados do Ocidente sobre a Russia Today e a Sputnik. Mais uns meses, e lá atingirá também a China Today.
Os mais interessados no futebol também sabem bem quem foi Gary Lineker, que jogou a alto nível no Barcelona e em equipas inglesas. E ontem, quando o vi na televisão, de pronto me dei conta de que se trata de alguém de muito bom nível social e educativo. Mas é também, como agora veio por cá a lume, um britânico sensível à dor alheia, o que o levou já a hospedar refugiados em sua casa. Não se fica pelas palavras, portanto.
É conhecido o modo como a União Europeia pouco ou nada tem ligado aos migrantes que fogem das agruras de uma vida que foi até criada, em grande medida, no seguimento da ocupação europeia na sequência dos Descobrimentos. Tudo isto seguido da escravatura, da discriminação racial e da exploração das riquezas desses territórios a que aportaram os europeus, como consequências dos seus conhecimentos e da sua coragem.
Num dia destes, foi-nos possível, depois da mais recente hecatombe humanitária no Mediterrânio, escutar a nova garantia da Presidente da Comissão Europeia: agora é que vai ser a última desgraça! Bom, não chorei, claro está, mas acabei por operar um comentário trocista, quando almoçava com um coronel conhecido e hoje na reserva: claro, claro, agora é que a coisa vai. E citei uma frase da minha saudosa mãe: é como o burrinho do Zé Tomé, vai devagarinho, mas vai. Enfim, no meio de uma tragédia, a pândega do tempo que passa.
Ora, o Reino Unido anda às aranhas com a vaga de migrantes que lá conseguem atravessar a Mancha. Pois, se não há nada a perder, morrer é uma possibilidade cuja probabilidade acaba mesmo por ter de aceitar-se. De modo que o Governo Britânico não está com meias medidas, deitando mão de mil e um meios para pôr um fim neste mecanismo. Invariavelmente, não investem nos territórios de onde fogem os migrantes… Pelo contrário: recebiam, de braços abertos, o fantástico pilim dos tais oligarcas russos – e também ucranianos, entre outros –, de quem agora dizem cobras e lagartos. E quem não se recorda das naus de piratas que trabalhavam para a velha Inglaterra…? Objetivamente, para os ingleses sempre valeu tudo.
Pois, num destes dias, Gary Lineker, nas redes sociais, determinou-se a falar verdade: nem há um enorme afluxo de migrantes, porque até recebemos muito menos refugiados do que outros grandes países europeus, pelo que esta é apenas uma política imensamente cruel, dirigida às pessoas mais vulneráveis, numa linguagem que não é diferente da utilizada pela Alemanha nos anos 30. Sendo uma evidente verdade, Gary só teve um azar, digamos assim: acreditou que no Reino Unido – no Ocidente, em geral – existe liberdade para expressar livremente o pensamento. Infelizmente, a resposta, como agora pôde ver e sentir, é esta: errou!
Objetivamente, os mesmos que na União Europeia tão bem receberam, durante muito tempo, os loiros e cristãos ucranianos, são os que sempre recusaram os negros africanos e os muçulmanos. É o racismo ao vivo, de parceria com a manifestação mais básica de um conflito civilizacional.
Num ápice, a BBC, onde Lineker trabalhava como freelancer, pôs o histórico futebolista na rua. Bom, foi um terrível burburinho, com colegas a apoiarem-no com a sua ausência dos programas de que participavam, e com o apoio geral de mil e um ligados ao desporto, incluindo gente diretamente ligada à liga principal do futebol britânico. Objetivamente: a mentida do Estado de Direito na velha Inglaterra, tal como em tempos Marcelo Caetano referiu numa das suas CONVERSAS EM FAMÍLIA. E isto, caro leitor, não é na Rússia, ou na China, ou em Cuba, ou na Bielorrússia, é no Reino Unido de Carlos III. E há uns anitos, teria sido na…União Europeia, a tal estrutura de que a Presidente nos disse há dias que agora é que vai ser. Tal como escreveu em tempos o cronista meu Amigo, Manuel de Portugal, são eles a falar e nós logo a acreditar 200 % no minuo seguinte.
Há muito que a BBC deixou de ser aquela estação da grande comunicação social de referência, o que explica, embora só em parte, este lamentável fenómeno de violação da liberdade de expressão. Olhando este caso por cá, noto que, infelizmente, os nossos comentadores desportivos, e mesmo os nossos futebolistas, lá se ficaram como se vivia no tempo da II República: não viram, não ouviram, não souberam, não pensam, obedecem. Infelizmente, a inércia é como a Bélarte, está em toda a parte.
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