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Liberdade aparente

Se tivermos a sorte de continuar por aqui nos vinte anos próximos, será interessante analisar o percurso de vida, mormente se político, de muitos dos ora protestantes. Um dado é certo: eles têm razão, mas impõe-se-lhes saber defendê-la.

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As recentes manifestações estudantis em defesa do clima e contra a utilização dos combustíveis fósseis permitiu comparações deveras interessantes. Portanto, vejamo-las.

Em primeiro lugar, elas mostraram como assiste razão a estes jovens. E era o que se dava com os protestos do Maio de 78, sendo que tudo acabou por correr completamente à revelia daqueles, até com a deslocação de De Gaulle à Alemanha, onde se encontrou com os seus colegas militares aqui estacionados, que lhe garantiram que avançariam sobre Paris com os seus carros de combate, desde que fosse libertado o seu colega Salan. Felizmente para os jovens protestantes do tempo, o operariado francês roeu-lhes a corda. E hoje, como se sabe, aqueles jovens protestantes deixaram completamente para trás os seus ideais, passando a alinhar com as modas triunfantes

Em segundo lugar, os nossos jovens queixaram-se de terem sido tratados com violência por guardas da PSP, o que, manifestamente, não correspondeu à verdade. Felizmente para eles, já não temos hoje os históricos gorilas, que espancavam alunos e professores nas faculdades, mas a soco e pontapé e com bastonadas a esmo. É um abismo a diferença entre as duas realidades.

Em terceiro lugar, nunca qualquer Estado realmente digno pode aceitar a tomada de instalações, públicas ou privadas, com manifesta violação de direitos gerais ou de terceiros. Estes jovens, como todos os restantes, têm o dever de protestar em defesa do clima e contra a continuada utilização de combustíveis fósseis, mas devem fazê-lo de um modo persistente, massivo e muito geral ao nível interno e no internacional. Depois, resta-lhes esperar pelo bom senso dos que, por estes meios, vierem a ser tocados.

E, em quarto lugar, é de todo ridículo exigir a demissão do Ministro da Economia por este, em tempos, ter estado à frente de negócios com combustíveis fósseis! Infelizmente, António Costa Silva não nasceu para as inenarráveis vicissitudes da política, o que foi facilmente percetível pela sua quase paralisia em face das perguntas, sem grande utilidade – é o usual – dos jornalistas, acabando por seguir o conselho de alguém, no sentido de deixar de alimentar a conversa.

Estes jovens, com o decorrer do tempo e com a experiência da vida, irão aprender o quão aparente é a liberdade plena, normalmente debitada em nome da designada democracia. Talvez um ou outro tenha visionado o Epresso da Meia-Noite de há uma ou duas semanas, em que o académico Vasco Rato salientou para Ricardo Costa que a queixa de Nixon sobre a fraude eleitoral no seu confronto com Kennedy fazia toda diferença. Um acontecimento que pude já tratar por vezes diversas.

Se tivermos a sorte de continuar por aqui nos vinte anos próximos, será interessante analisar o percurso de vida, mormente se político, de muitos dos ora protestantes. Um dado é certo: eles têm razão, mas impõe-se-lhes saber defendê-la.

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