Grande barraca
Um dado é certo e foi ali visto às claras: é possível um criminoso de guerra nazi, sem mais, ser apresentado num Estado ocidental da OTAN como um herói... Um acontecimento que se constituiu numa boa estimativa do valor do que se diz sobre a grande batalha da Ucrânia.
A grande batalha da Ucrânia está fortemente impregnada de uma vastidão de mentiras. Por vezes, estas mentiras surgem mesmo de um modo inesperado, mas mostrando o que deverão ser os bastidores da realidade política internacional. E foi o que há dias se deu no Parlamento do Canadá, com a exibição oportunista de um indivíduo que surgiu ali como um herói da luta pela independência da Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial. Bom, afinal o indivíduo havia sido membro das Waffen SS, que era uma terrível estrutura do III Reich. Uma barraca de todo o tamanho. E um tamanho que chegou para levar à demissão do Presidente do Parlamento do Canadá.
Não deve pensar-se que casos destes são raros, para o que basta recordar o que se passou com certo Secretário-Geral das Nações Unidas, entre muitos outros, e até surgidos há poucos anos… Uma realidade que mostra uma diversidade de situações, ainda hoje bem vivas.
Em primeiro lugar, é essencial recordar, como já escrevi, o Pacto de Munique, em que França e Alemanha tentaram uma espécie de seguro de vida nacional com os nazis, a fim de tentarem que as atenções destes se virassem contra a União Soviética.
Em segundo lugar, deve ter-se sempre presente o silêncio de Pio XII, e de (quase) toda a Igreja Católica Romana em face do holocausto.
Em terceiro lugar, o fantástico negócio operado pela Igreja na fuga de mil e um nazis, em geral, para a América Latina.
Em quarto lugar, é conveniente nunca esquecer o caso do representante do III Reich na Sérvia, cujos cidadãos eram, em larguíssima escala, católicos ortodoxos: cerca de 200 000 mortos sob as ordens do croata católico Ante Pavelic. Um criminoso de guerra que começou por se refugir num mosteiro católico nos arredores de Roma, passando depois para a Espanha de Franco, regressando mais tarde, sem problemas, à sua Croácia católica.
Em quinto lugar, a simpatia de que o nazismo também gozava junto de alguns membros da família real britânica.
E, em sexto lugar, a receção de muitos nazis pelos Estados Unidos. Um destes foi Werner von Braun, que viria a estar na base do programa espacial dos Estados Unidos. Um caso que deu que falar, durante muito tempo, no seio da classe política norte-americana, dado que Werner von Braun estivera fortemente envolvido na criação e desenvolvimento das V1 e V2, que atingiram, às centenas, diversos lugares de Inglaterra, matando e ferindo bem em massa.
O continente americano, bem distante da Alemanha, foi para onde a maior parte dos foragidos nazis se deslocou. E basta olhar toda a estrutura militar dos Estados do subcontinente americano para logo se perceber como toda a imagem do nazismo está neles bem presente. Uma consulta aos vídeos do Google permitirá descobrir o que pode até nunca ter sido imaginado, mormente por via de paradas militares.
O que este caso do Parlamento em Otava mostra é que os dirigentes da Federação Russa terão uma enorme parte de razão quando apontam os políticos de Kiev como nazis. Um facto que, visto o tema com atenção, está a desenrolar-se na própria Alemanha e em grande velocidade. Aliás, um pouco por toda a Europa.
Um dado é certo e foi ali visto às claras: é possível um criminoso de guerra nazi, sem mais, ser apresentado num Estado ocidental da OTAN como um herói… Um acontecimento que se constituiu numa boa estimativa do valor do que se diz sobre a grande batalha da Ucrânia.
Um pouco ao lado deste tema, merece aplauso e admiração a coragem ontem mostrada pelo Embaixador Francisco Seixas da Costa sobre o caso dos gasodutos do Báltico: sempre esteve convencido de que a mão oculta por detrás dos atentados havia sido ocidental. Apenas falhou ao deitar-se a esperar pelo relatório final, porque as instituições internacionais, e mesmo as nacionais, no tempo que passa, não merecem qualquer credibilidade. Objetivamente, esse relatório pouca credibilidade irá merecer.
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