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Fraquitotes

Não é concebível, contudo, que tal convite tenha sido feito sem uma aquiescência conhecida, no mínimo, do grupo parlamentar do PS. Em todo o caso, lá estará a decisão final da Assembleia da República.

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A recente polémica criada pela oposição ao redor do convite formulado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, ao Presidente Luís Inácio Lula da Silva, para discursar na Sessão Solene das Comemorações do 25 de Abril, na Assembleia da República, mostra bem o modo como a democracia é hoje vivida pelos partidos políticos em Portugal.

O convite foi inteiramente apropriado, dado que o Governo dispõe da mais completa legitimidade para operar uma tal iniciativa. Esta, todavia, não deixa de estar condicionada pela decisão última da Assembleia da República. Uma coisa é a iniciativa política, que foi aqui do Governo – poderá ter sido do Presidente da República, ou mesmo de um qualquer partido com assento parlamentar –, outra a decisão constitucional última para a materialização da mesma.

Não é concebível, contudo, que tal convite tenha sido feito sem uma aquiescência conhecida, no mínimo, do grupo parlamentar do PS. Em todo o caso, lá estará a decisão final da Assembleia da República.

Escrevendo apenas de memória, creio que Ronald Reagan foi por igual convidado para discursar na Assembleia da República, sendo certo que se este mais recente convite tivesse sido feito a Joe Biden, ou a Zelensky, e nas mesmas circunstâncias, os ora protestantes num ápice deixariam de assim proceder. E esta realidade seria ainda mais forte se o convite tivesse sido feito ao Papa Francisco. Neste último caso, nem a CDU se deveria mostrar contrária ao convite do ministro.

Não pode duvidar-se de que a Direita, bem como a Extrema-Direita – estão cada dia mais próximas…–, se chamadas a pronunciar-se sobre o referido discurso do Presidente Lula da Silva nunca o avalizariam. No fundo, estes dois espaços políticos certamente teriam preferido a vitória de Bolsonaro, o que se compreende perfeitamente.

O convite ao Presidente do Brasil tem uma lógica fortíssima e mostra-se repleto de oportunidade. Desde logo, porque se trata do Presidente do Brasil. Depois, porque Luís Inácio venceu eleitoralmente um candidato claramente antidemocrático, para mais com tudo o que se viu logo de seguida. E, por fim, porque a vitória de Lula da Silva dispõe de um conteúdo político que se liga, precisamente, ao Movimento das Forças Armadas Portuguesas, que conduziu à vitória da Revolução de 25 de Abril. E são todas estas razões que geraram a tremenda reação da oposição contra o convite, lógico e legítimo, do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Governo.

Veremos agora se o PS, no âmbito da sua intervenção na Assembleia da República, se mostrará como usualmente neste tipo de situações – politicamente fraquitote –, ou se se apresentará determinado na defesa da excelente ideia do Governo, operada através do Ministro dos Negócios Estrangeiros. E também há que estar atento ao que irá aceitar o próprio Presidente do Brasil: depois de convidado para discursar na Assembleia da República, como creio ter sido o caso com Ronald Reagan, prestar-se-á a uma intervenção secundarizadora da sua pessoa, da correspondente função e do País que representa? É o que se irá ver. Um dado, infelizmente, é certo: neste tipo de polémicas, normalmente, o PS mostra-se um partido politicamente fraquitote.

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