Falhanço
Ora, ontem, António Guterres expôs, perante a Assembleia-Geral da ONU, as suas prioridades para 2023, centradas no reforço de direitos universais e na ação climática. E apresentou sete eixos de prioridades.
Quando António Guterres se candidatou ao cargo de Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, senti-me deveras satisfeito com tal corajosa iniciativa. Além do mais, a presença de Francisco na liderança da Igreja Católica Romana, de parceria com as ligações profundas de Guterres a esta, levaram-me a perceber que seria grande a probabilidade de o nosso concidadão atingir o que todos pretendíamos. Para tal contribuíram fortemente as suas reconhecidas quali-dades, bem como as qualificadas diplomacias portuguesa e vaticana.
Em pouco tempo, porém, dei-me conta de um dado assaz importante e que viria a marcar o seu percurso à frente da ONU: nunca abordou, durante a campnha, o conflito israelo-palestino. Um facto que se veio a somar à constante preocupação mostrada para com a existência de armas nucleares, tal como as reformas estruturais a operar na ONU, mas que sempre se ficaram por mudanças no Conselho de Segurança…
Ora, ontem, António Guterres expôs, perante a Assembleia-Geral da ONU, as suas prioridades para 2023, centradas no reforço de direitos universais e na ação climática. E apresentou sete eixos de prioridades. Três aspetos destes sete eixos prendem-se com o direito à paz, com a ameaça representada por 13.000 armas nucleares mantidas em arsenais em todo o mundo e com a necessidade de um meio ambiente limpo, saudável e sustentável. Infelizmente, a ação de António Guterres nas suas atuais funções constitui, em minha opinião, um falhanço.
Em primeiro lugar, o falhanço na resolução do histórico conflito israelo-palestino, domínio onde a violação das normas dimanadas da ONU por parte de Israel constitui um verdadeiro canal sem ruído, conceito muito bem conhecido por Guterres. De resto, ainda num dia destes Netanyahu, o homem que dirige o Governo de Israel e com três processos-crime em cima, explicou à CNN que a teimosa teoria guterrista dos dois Estados está morta. Mas há muito se conhece esta realidade!!
Do mesmo modo, a completa incapacidade de Guterres para tratar, primeiro que tudo, com o Presidente Vladimir Putin, colocando-lhe, pessoalmente, esta pergunta simples: qual é o seu receio, em face da existência da Federação Russa, perante a ação da OTAN e das atitudes dos Estados Unidos? Infelizmente, completamente dentro do modo de atuar de Guterres, este terá tratado deste problema de um modo inteiramente formal, que era, indubitavelmente, o caminho a não seguir. Precisava-se de alguém de ação, não de um formalista. Pois, o resultado foi simples: acossado pela OTAN – os Estados Unidos, portanto –, da Rússia sobreveio o que se tem vindo a ver. Um falhanço, pois, de António Guterres.
Em segundo lugar, a patética luta contra as armas nucleares. A verdade é que a existência destas, tirando a sua utilização pelos Estados Unidos no Japão e pelo Reino Unido nas Malvinas, nunca criou problemas ao mundo. A esmagadora maioria das mortes em guerras nunca tiveram que ver com a utilização das armas nucleares. E depois, Guterres parece acreditar em que os Estados Unidos poderiam aceitar pôr um fim no seu armamento nuclear!! Mesmo o Reino Unido, quase com toda a certeza, nunca aceitaria tal ideia. Deste modo, também a França nunca iria por um tal caminho, bem como Israel.
Claro está que o objetivo de Guterres seria levar a Rússia a aceitar a ideia, e depois também a China, ainda muito nos inícios de um armamento similar ao da Rússia e dos Estados Unidos. E este tema – o das armas nucleares – prende-se com a tal reforma das Nações Unidas, mas que nunca passou da ideia de operar modificações dentro do Conselho de Segurança, setor onde estão presentes, com caráter permanente, a Federação Russa e a China. De um modo simples: as propostas de Guterres, de facto, visavam apenas a Federação Russa e a China, porque os Estados Unidos, o Reino Unido e a França nunca aceitariam tais mudanças. Até agora, porém, mais um falhanço.
E, em terceiro lugar, a necessidade de um meio ambiente limpo, saudável e sustentável. Aqui, porém, tudo é mais simples, bastando acompanhar os noticiários televisivos. Com a cultura e o saber de António Guterres, é fácil perceber que a economia de mercado, inevitavelmente, terá de conduzir à destruição do Planeta. Mas também aqui António Guterres tem usado da palavra, mas sem reais consequências positivas. É que a obtenção da solução possível não pode ser conseguida pela utilização do formalismo utilizado por António Guterres. Precisa-se, isso sim, de ação,
que seja dinâmica, criativa e consiga congregar os reais detentores do poder ao nível mundial e dentro de um possível garantido. Enfim, mais um falhanço, infelizmente cada dia mais visível.
Mostra tudo isto que a presença de António Guterres à frente da ONU não trouxe ao mundo, de facto, nada de verdadeiramente novo e desanuviador. Infelizmente, não faltam guerras, mas falta a solução para que não tivessem lugar. As existentes e as potenciais. Objetivamente, estamos hoje pior que no tempo da chegada de Guterres às Nações Unidas.
Publicidade