Falar e Fazer
A utilização pública da palavra presidencial destina-se aos casos de grande relevância política, e no pressuposto de que os portugueses possam, sem a mesma, vir a correr um grave risco por erros políticos da governação.
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa vem mostrando um tripo de intervenção política extremamente desagradável, porque pouco ou nada ajuda a resolver o que possa estar mal na governação do País, afligindo a generalidade dos portugueses.
Costuma dizer-se que um dos poderes do Presidente da República se situa na utilização da pa-lavra. Simplesmente, tal pressupõe que a mesma não sirva para introduzir ruído no funciona-mento geral das instituições políticas e no seio da própria sociedade.
Foi possível assistir, há um tempo, a um qualquer nosso concidadão que se dirigiu ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, um pouco furioso com a vida que estaria a viver, dizendo-lhe que apenas falava, até muito bem, mas não fazia nada. E eu imagino o sentimento de desagrado do Presidente, ao escutar estas palavras, para mais espelhadas depois através dos noticiários tele-visivos.
Claro está que o Governo de António Costa está longe de atuar da melhor maneira que está ao seu alcance, mas tal nunca poderá levar a que os cidadãos compreendam aquela infeliz tirada do Presidente da República sobre o Governo (supostamente) requentado. Vendo bem, mormente por se poder circular livremente, foi uma tirada que, sem causar moça, nem sequer foi glosada como algo que suscitasse graça.
O dever constitucional, até lógico, do Presidente da República é tratar com o Primeiro-Ministro dos temas que a governação leva à prática. E é nas reuniões semanais que a utilização da palavra presidencial deve ser usada em primeira mão, esperando um eco de compreensão do Governo, mas sem introduzir o tipo de ruído que já se tornou num fator quase inútil.
A utilização pública da palavra presidencial destina-se aos casos de grande relevância política, e no pressuposto de que os portugueses possam, sem a mesma, vir a correr um grave risco por erros políticos da governação. O contrário, pois, do que está a ser a infeliz e perturbadora inter-venção do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, constantemente comentando a política do Go-verno, tal como a qualidade das suas medidas.
Inevitavelmente, mormente em função da completa ausência de programa por parte do PSD, e por via da materialização do que pudesse pretender numa sua futura governação do País, este tipo de intervenções do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa terá sempre de ser visto como boia de salvação para o seu PSD, tal é a ausência de acerto por parte da Direita e da Extrema-Direita.
A ação política do nosso Presidente da República faz lembrar a política de provocações dos Estados Unidos face à Federação Russa e à China: tantas fizeram, que a Rússia acabou por ter de atuar como se viu. E assim se tem dado com o Presidente Marcelo: depois de mil e uma intervenções perturbadoras, o Governo lá se viu forçado a defender-se, mas de um modo que nunca desejou praticar. Se realmente pretende defender o regular funcionamento das nos-sas instituições, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tem agora na situação em que se encon-tram alguns dos juízes do Tribunal Constitucional uma boa razão para usar da palavra. Ao Go-verno, porém, compete governar, de preferência sem intervenções de quem não governa, antes com a sua ajuda. Também a nossa democracia vai dando crescentes mostras de desmorona-mento…
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