Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

Estranheza

Acontece que neste caso da tragédia líbia nunca se ouviu a anterior solidariedade de Portugal. Não recordo uma qualquer tomada pública de posição por parte das autoridades, o que é bem sintomático: uma fortíssima correlação positiva entre as duas ausências...

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Recordamos todos bem a rapidez com que as autoridades portuguesas se colocaram à disposição das marroquinas, na sequência do violento sismo que atingiu a zona de Marraquexe. Uma tomada de posição muito correta, solidária e reiteradamente salientada por mil e um, desde governantes, Presidente da República, até à grande comunicação social. Em todo o caso, uma solidariedade sobre que o Governo de Marrocos, durante um longo tempo, nunca se pronunciou. Enfim, o tema acabou por cair no olvido.

Um pouco depois, surgiram as terríveis chuvadas na Líbia, o que provocou o impensável para muita gente, mesmo bem sabedora deste tipo de situações. Um acontecimento desagradavelmente hipertrofiado por via dos dois poderes hoje presentes na Líbia, fruto de mais uma daquelas infelizes decisões da dita Comunidade Internacional, onde pontificaram a França, o Reino Unido e…os Estados Unidos. Bom, o resultado desta iniciativa está bem à vista do Mundo, sendo que nunca ninguém se preocupou em apresentar a juízo os mandantes e os executantes de Kadafi. La France oblige…

Acontece que neste caso da tragédia líbia nunca se ouviu a anterior solidariedade de Portugal. Não recordo uma qualquer tomada pública de posição por parte das autoridades, o que é bem sintomático: uma fortíssima correlação positiva entre as duas ausências…

Do mesmo modo, as notícias só muito tardiamente nos trouxeram que também a Federação Russa se determinou a ir em auxílio da população líbia atingida por um tal inferno. Um avião de transporte russo levou àquelas populações, entre outras coisas, tendas, cobertores, centrais elétricas móveis e projetores para iluminar as zonas de busca e salvamento. E convém ter presente que, segundo as Nações Unidas, quase nove centenas de milhares de líbios precisam de ajuda, sendo que, destes, um quarto de milhão tem necessidades urgentes. De Portugal, se estou certo, nem uma palavra.

A ausência, por muitos dias, da referência ao auxílio russo trouxe-me à memória uma prova internacional de atletismo, já perto da Revolução de Abril, em que a transmissão se ia sempre abaixo quando o hino da União Soviética, ou o da Alemanha Oriental, iam ser tocados. No fundo, e em mui boa medida, mudaram as moscas…

Igualmente sintomático, a tal ausência de uma posição similar à adotada para com Marrocos, ao mesmo tempo que a grande comunicação social nunca abordava a questão… No fundo, é como escrevi antes: mudaram as moscas. No meio de tudo isto, a tal vantagem: temos a democracia…

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