Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

Estava Escrito nas Estrelas

Tivemos um Nobel da Literatura, mas tudo faz crer que, nas próximas décadas, não voltaremos a repetir a façanha. E até o meio Nobel de Egas Moniz acabou por vir a ser alvo de uma petição nos Estados Unidos, a fim de lhe ser retirado o título.

423

Quem acompanha os meus escritos terá notado que sempre salientei que a falta de clareza na estratégia liderante de Rui Rio se ficava a dever ao facto de não poder o PSD, nem um seu líder, dizer ao que pretendia vir. Bom, as eleições estão aí à vista, sendo as segundas para a Assembleia da República a terem Rui Rio à frente do seu partido. Portanto, a tal clareza que tantos pediam teria de surgir agora. E foi o que pôde ver-se: destruir o Estado Social, em nome de um sonho acordado, que seria o de criar primeiro riqueza para depois a poder distribuir melhor e mais justamente. Mas basta olhar o que vai pelo mundo com a distribuição das vacinas, e logo se percebe que a conversa de Rui Rio é apenas isso, uma mera conversa.

Ora, num texto meu de ontem, ao redor do debate Costa-Rio, tive a oportunidade de referir aquela perplexidade mostrada por Fernando Teixeira dos Santos na entrevista concedida a Vítor Gonçalves, nesta passada quarta-feira. E também referi que eu mesmo é que fiquei perplexo com a estranheza do nosso antigo Ministro das Finanças, porque deu a sensação de desconhecer a realidade histórico-geográfica do País. Como escrevi, bem poderá continuar à espera da chegada do Pai Natal.

O leitor, com toda a certeza, já terá escutado esta fabulosa declaração da treta a mil e um políticos nossos: estamos na cauda da Europa, e já fomos ultrapassados pelos países do Leste. E então, debitam inenarráveis doutrinas técnico-políticas, que garantem conter a solução cabal do tal mal que, como a fama do Constantino, já vem de longe. O grande problema é que o tempo existe mesmo e com a sua passagem volta a materializar-se o título do livro de Teixeira dos Santos, a ser posto à venda na próxima semana: MUDAM-SE OS TEMPOS, MANTÊM-SE OS DESAFIOS.

No fundo, este título já responde à tal perplexidade com que o antigo ministro disse estar atingido: o peso da História, e deste por via do da Geografia, existem mesmo. Ora, o que mil e um políticos nos vêm periodicamente dizer é que com eles é que a coisa irá… Precisamente o que está agora, mais uma vez, a dar-se com o PSD de Rui Rio. O problema está no depois, porque tudo fica na mesma. Ou pior. De resto, Teixeira dos Santos também acabou por reconhecer isto, ao referir a tal pedra, sucessivamente levada ao cimo do monte, mas logo caída para o seu sopé. Mas olhemos esta rigidez histórica com um mínimo de pormenor, acessível a quase todos.

Pensemos, por exemplo, no desporto. Se o leitor der uma olhadela ao Google, verá que Portugal nunca organizou uns Jogos Olímpicos, nem alguma vez deverá vir a fazê-lo. Também um Mundial de Futebol não teve lugar entre nós, só aqui devendo vir a chegar dentro de umas duas a quatro décadas.

Do mesmo modo, as equipas portuguesas, plenas de atletas e de treinadores, não vencem as grandes provas europeias. Não nos faltam grandes jogadores e treinadores, mas têm, eles também, de deixar Portugal. E o mesmo se dá, de um modo imensamente geral, com quase todos os desportos.

Tivemos um Nobel da Literatura, mas tudo faz crer que, nas próximas décadas, não voltaremos a repetir a façanha. E até o meio Nobel de Egas Moniz acabou por vir a ser alvo de uma petição nos Estados Unidos, a fim de lhe ser retirado o título. Os mais atentos puderam visionar a entrevista concedida por alguns queixosos e pelo líder do Instituto Nobel. Mas tudo se ficou por aqui, com cientistas de grande relevo, em domínios diversos, cá e lá por fora, mas sempre sem serem laureados com o tão almejado título.

Surgem-nos por aí imigrantes diversos, mas o único caminho de fugirem à fatalidade de Odemira é seguirem para o centro da Europa. Como facilmente se percebe, esse centro terá sempre um potencial muito superior ao de Portugal, que é um Estado periférico, isolado entre o mar e Espanha. E já reparou naquele velho nosso ditado, a cuja luz de Espanha nem bom vento nem bom casamento? E acredita que algo de simétrico existe na vida social e cultural espanhola? Claro que não! É que Franco teve três exércitos planeados para invadir Portugal, com Salazar a preparar-se para sair do País, nunca aceitando render-se. E algum político português pensou como Franco, mas para com Espanha? Obviamente que não! E sabe porquê? Pois, porque os rios nascem lá e movem-se para aqui: somos nós quem está dependente da Geografia, que moldou, de modo fortíssimo, a nossa estruturação histórica.

Quando eu era garoto, e mesmo muito tempo depois, os portugueses emigravam, a fim de poderem operar alguma ascensão social lá pelo centro europeu. Passadas décadas, depois de uma mudança forte do regime constitucional, a emigração de portugueses continua, mas agora já com concidadãos de mui elevada qualificação. Ou seja: trata-se de uma constante histórica, com evidentes origens geográficas. Portanto, porquê ficar perplexo com tal realidade, se ele tem uma origem geográfica e histórica?!

Em contrapartida, há quem se determine a vir para o território nacional. Por um lado, os pobres da vida, que por aqui estão agora a tentar entrar no espaço europeu, mas com a finalidade de conseguirem vir a localizar-se no centro da Europa. Por outro lado, os ricos do mundo, mormente do centro da Europa, que por aqui vêm desfrutar do bom clima e das magníficas condições materiais que temos de oferecer.

É perante toda esta realidade desde há muito conhecida – Teixeira dos Santos mostrou-se perplexo com ela!! – que Rui Rio nos veio agora debitar a histórica ladainha: Portugal está mal – e não está nada assim, digo eu agora –, mas comigo e com o PSD iremos subir imparavelmente. Pois, muito sinceramente, custa-me perceber que ainda, sem objetivos e estranhos interesses, haja quem acredite numa historieta com este quilate. Mas há um dado em que Rui Rio foi bem claro: ele diminuirá os impostos para as empresas, e dois anos depois para os cidadãos, mas há que pôr um fim no Estado Social, mudando a Constituição da República, para mais naquilo que de melhor tem dado aos cidadãos. E perante tudo isto, deixo ao leitor esta pergunta: ouve o PCP, Verdes e Bloco de Esquerda apontarem o risco do PSD pôr um fim no Estado Social, ou apenas ouve atacar o PS de António Costa?

Publicidade