Escrito nas Estrelas
A grande preocupação dos portugueses, e desde que se materializou a Revolução de Abril, é a garantia a todos dada pelo Estado Social. Este é, indubitavelmente, a grande conquista que os portugueses receberam daquele acontecimento histórico.
Um grande diário nacional traz hoje uma sondagem que vai, em minha opinião, ao encontro do que pressinto como presente no seio da comunidade nacional e ao nível dos meus lugares de frequência diária. E compreendo que assim seja, apesar de continuar a chamar a atenção dos que comigo convivem para o risco das sondagens. É sempre essencial pensar pela própria cabeça, olhando o que se prometeu, o que está a cumprir-se e o que se perspetiva para futuro. E também operar uma estimativa da responsabilidade, ao nível global, de quem nos governa perante o que vai hoje pelo mundo.
A grande preocupação dos portugueses, e desde que se materializou a Revolução de Abril, é a garantia a todos dada pelo Estado Social. Este é, indubitavelmente, a grande conquista que os portugueses receberam daquele acontecimento histórico. E é uma conquista objetivamente sentida, dado que sem ele os portugueses cairiam num estado de pobreza sem porta de saída capaz. A sua manutenção e defesa dependem, porém, de um real sentimento do seu valor político e ideológico, atitudes em que o Governo do PS de António Costa vem falhando em crescendo.
Indubitavelmente, instalou-se um despertar de revolta, dentro das tradições portuguesas, perante o tal pacote anunciado para defender as famílias. Ninguém deixou de perceber, e quase ao minuto, as consequências no valor da reforma para os aposentados, percebendo-se o sentimento de revolta que de pronto se instalou no seio do referido grupo, hoje com grande extensão numérica. Uma realidade que de imediato se projetou na imagem do Primeiro-Ministro, António Costa, cuja credibilidade política, objetivamente, começa a descer.
Com maior dificuldade, começa por igual a descrer-se na capacidade do Governo do PS de António Costa de manter e recuperar o Serviço Nacional de Saúde, mormente nos termos definidos no plano constitucional. A recente mudança do titular da pasta, de parceria com o anúncio de Fernando Araújo para o tal cargo já criado, mas com um grau de notícia que faz crer numa espécie de personalidade providencial, com o tema dos vencimentos e das carreiras a desaparecer dos noticiários, tudo apenas centrado na gestão, faz também pensar no pior. Sendo Fernando Araújo excecional, já com muito boas provas dadas, o que de si vier, sobretudo se ao encontro dos desejos da Direita e da Extrema-Direita, será logo coisa apregoada como ótima. Mas, enfim, vamos esperar, embora me sinta desconfiado, digamos assim.
Por fim, o setor da Educação. A verdade é que não há grandes avanços, mas desde que se entre em linha de conta com o ensino superior. O montante das propinas não vai baixando, o acesso a uma habitação está reservado a ricos, os livros custam uma fortuna e nem a alimentação é fornecida aos que, com o seu mérito, conseguiram aceder a este grau de ensino. Não se estando a descer, também não se melhora.
Perante estas realidades, não custa aceitar os resultados desta recente sondagem, com o PS de António Costa à beira de passar para o intervalo da vintena percentual, ao mesmo tempo que o PSD, não melhorando quase nada, lá acaba por se ver a 6 pontos percentuais do PS. Objetivamente, o PS decresce aos olhos dos portugueses, que continuam a perceber que o PSD vale o que sempre imaginaram. É, indubitavelmente, uma perda na imagem do Governo do PS de António Costa, mormente por via deste mesmo.
A tudo isto pode juntar-se o burburinho que tem vindo a somar-se com as autarquias, pelo que, à luz de uma cautelosa atitude pessimista dos dirigentes do PS, nada como admitir que possa vir a ter lugar uma mudança posicional entre PS e PSD nas próximas eleições autárquicas. Se tal vier a dar-se, bom, cair-se-á numa situação de forte irreversibilidade política. Será o fim do Estado Social e, por aqui, o do próprio PS, desde sempre ancorado na essencial diferença em face do PSD neste domínio.
Depois, lá virá a eleição para o Presidente da República, domínio onde, se não pressinto mal, o PS continuará a não dispor de uma saída própria com probabilidade de vitória. Deixo ao leitor o trabalho de completar as consequências de tudo o que aqui escrevo com o seu próprio pensamento e reflexão. Em todo o caso, nem é difícil estimar o futuro daqui saído.
Por fim, se uma crise vier a implantar-se em Portugal, e se vier a recorrer a eleições, já o PS não entrará na corrida sob a liderança de António Costa. Será a situação em que este poderá vir a tentar ocupar um lugar na cena política internacional, tal como tantos sempre pensaram, embora não à luz deste cenário aqui descrito. Um dado é certo: as sondagens de pouco valem, mas pressente-se que, neste caso e desta vez, talvez por acaso, as duas realidades devem andar em paralelo. É que o Estado Social pode mostrar-se como de cortiça ou de ferro maciço: dá para salvar ou para morrer…
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