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“das margens do teu ventre”

Poemário, rúbrica de Carlos d’Abreu, raiano do Douro Transmontano (1961), Geógrafo (USAL/UC), Arqueólogo (UP/USAL) e Historiador (UPT/USAL), colaborador do Centro de Literatura Portuguesa (UC); investigador, poeta (e diseur), antologista e tradutor; conta com várias publicações nestas áreas.

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das margens do teu ventre

das margens do teu ventre
naveguei em direcção ao centro
onde em seu torno gravitei
aguardando um certo vento
que houvesse de levar-me
mais abaixo mais p’ra sul.

olhando a norte descortinava
por entre a diáfana neblina
gémeos pães-de-açucar à contra-luz
por detrás dos quais adivinhava
um rosto de meigo sorriso.

apeteceu-me baralhar as coordenadas
enganar a direcção da brisa
levantar todas as velas
e partir ao alcance do setentrião.

nada disto fiz porque a missão
era outra nesse momento
alcançar porto ao meio-dia
amarar, fundear e lançar ferro
nas cálidas águas viscosas
daquele pélago em suave baía…

Carlos d’Abreu

``das margens do teu ventre``Poemário de Carlos d’Abreu
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“das margens do teu ventre”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Créditos da imagem: Pepe Posse (Ferrol, 2018)

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