Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

Corrida contra o tempo

Há umas boas décadas, numa das centenas de noites passadas em casa do matemático meu amigo, dele escutei, e por vezes diversas, sempre com um sorriso significativo, que a África do Sul e Israel nunca seriam deixadas cair.

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Há muito se terá percebido que o Estado da Palestina nunca verá a luz do dia. O que está hoje a passar-se na Faixa de Gaza e na Cisjordânia mostra bem duas coisas: por um lado, que ninguém, de facto, se opõe ao que Israel está a praticar; por outro lado, que Israel corre sem perder fôlego para reduzir a nada, no plano físico, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Há umas boas décadas, numa das centenas de noites passadas em casa do matemático meu amigo, dele escutei, e por vezes diversas, sempre com um sorriso significativo, que a África do Sul e Israel nunca seriam deixadas cair. Escutei esta afirmação, nunca a esqueci, mas acabei por não lhe ligar muito. Em todo o caso, a mesma era sempre chamada ao meu pensamento quando algo de mais barulhento se passava por algum daqueles lugares.

Hoje, é já fácil perceber o que se continha naquela espécie de garantia: o Ocidente tem dois eixos de intervenção que são essenciais, e que são a luta contra os negros e o combate contra o islamismo. Em ambos os casos, está presente o risco da ultrapassagem populacional em jogo, com o espaço ocidental em declínio demográfico, ao mesmo tempo que os anteriores dois ambientes humanos comportam amplos fatores de multiplicação populacional.

Quem venha acompanhando o que se passa em Gaza, olhado o comportamento de Israel, percebeu já que se pretende destruir a possibilidade de sobrevivência neste espaço. Uma realidade muito bem espelhada nas palavras de ontem ou de hoje de certo ministro do Governo de Israel: desde a possibilidade de utilizar em Gaza uma bomba nuclear, à proibição de se usarem bandeiras do Hamas ou da Palestina, até ao êxodo dos palestinos para a Irlanda ou para o deserto. E de tudo isto, do Ocidente, desde os Estados Unidos a Francisco, passando pela União Europeia da política do megafone, nem uma palavrinha. O que sugere esta pergunta legítima: o que dirão agora, e em público, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ou os nossos detentores de soberania…?

De modo concomitante, toda a ação destruidora de Israel na Faixa de Gaza está a ser acompanhada de uma outra, mas na Cisjordânia. As duas, para lá de se complementarem, constituem as faces da grande estratégia de Israel para o fim a ser colocado na ideia do Estado da Palestina. E se a segunda lá vai continuando a ser ocupada com colonatos, acompanhados de homicídios de palestinos e com a debandada de muitos outros, a primeira acabará por vir a ser liderada por uma estrutura internacional, mas que acabará por conduzir a duas fases: primeiro, produzir-se-á uma separação do (suposto) Estado sedeado na Cisjordânia – uma espécie de novo Kosovo; depois, acabará por pedir a sua integração no próprio Estado de Israel – um tipo de região autónoma.

Um dado é hoje certo para mim: os Estados Unidos, sem o explicitarem, apoiam o caminho aqui indicado, deixando correr o marfim, mas sempre chamando a atenção para a existência de limites, mas a que Israel nada liga. Da União Europeia, bom, nada. E do Tribunal Penal Internacional, o mesmo, ou seja, nada.

O único caminho para se resolver este problema seria o de criar uma coligação militar internacional, com tropas dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, e forçar Israel a ceder a condução dos seus destinos, em prazo curto – um ano –, a uma comissão de sábios, que incluísse judeus e árabes, a fim de se fazer bem o que o Ocidente fez mal desde o início desta balbúrdia de doidos.

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