Informativo Digital de Trás-os-Montes e Alto Douro

Milhares de agricultores manifestaram-se em Mirandela contra o Governo

150 tratores em marcha lenta encabeçaram uma manifestação que juntou mais de 80 associações representantes do setor agrícola na região Norte e levou a Mirandela agricultores de todo o País, incluindo Minho, Beiras, Ribatejo, Alentejo e Açores.

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Excesso de burocratização, atrasos nos pagamentos dos fundos comunitários e a integração das Direções Regionais da Agricultura nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional foram os principais focos de contestação nesta que é a primeira ação regional de uma onda de protestos que irá estender-se, ao longo do próximo mês, a outras regiões do País.

Foi uma imensa moldura humana aquela que desfilou esta manhã, em Mirandela, fazendo ouvir a voz dos agricultores portugueses contra o a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) considera ser uma “total ausência de visão e de rumo para o setor agroflorestal por parte dos governantes e contra a inércia do Ministério da Agricultura“.

A adesão a esta ação de protesto, contou com cerca de 80 associações agrícolas do Norte do País, atraindo também à região de Trás-os-Montes muitos agricultores de outras zonas do País, incluindo Minho, Beiras, Ribatejo, Alentejo e Açores, prova, segundo a CAP “que o setor agroflorestal está unido nas críticas às políticas e medidas erradas que têm sido tomadas pelo Governo e que prejudicam gravemente a Agricultura nacional”.

 

Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, no rescaldo da ação de mobilização dos agricultores em Mirandela, disse que “esta grande manifestação mostra que o setor e o País estão profundamente cansados das promessas que têm sido feitas aos agricultores e que não são cumpridas, como vemos pelos múltiplos anúncios que a Sra. Ministra da Agricultura vem fazendo aos muitos milhões que diz estarem disponíveis para o setor, mas que teimam em não chegar ao terreno numa altura em que estamos sufocados pelo aumento dos preços dos fatores de produção e ainda a braços com as consequências da seca e dos incêndios“.

Ainda segundo o mesmo dirigente “todos os dias há promessas de 300 ou 400 milhões de euros para ajudas, mas são sempre os mesmos e não saem do papel. Os agricultores portugueses continuam à espera os quase 1.300 milhões euros de fundos comunitários a que têm direito sejam pagos, mas a espera prolonga-se e estamos saturados. Saturados da incompetência de quem nos governa, que mantém os Agricultores à margem das grandes decisões que afetam o setor“.

Em Mirandela, Eduardo Oliveira e Sousa disse ainda que existe “um Plano Estratégico da Política Agrícola Comum que foi desenhado de costas voltadas para o setor e que não serve a Agricultura portuguesa, sempre em constante desvantagem competitiva para com os outros mercados concorrentes, nomeadamente Espanha. Temos uma Ministra da Agricultura que aceita sem pestanejar o desmembramento do seu ministério e a extinção das entidades que garantem a proximidade com os agricultores e com o mundo rural. É o completo desnorte e os agricultores portugueses estão cansados, sentem-se abandonados, mas nem por isso desmobilizam. Esta grande manifestação do setor, em Mirandela, mostra que não baixamos os braços e que temos força para nos fazermos ouvir. E é o que vamos continuar a fazer ao longo do próximo mês, com mais ações de protesto em vários pontos do País, salientou o dirigente da CAP.”

A decisão de integração das competências das Direções Regionais de Agricultura nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRs) foi um dos grandes focos de contestação dos agricultores que, desde a primeira hora, têm alertado para as consequências graves desta medida no que ao desenvolvimento da agricultura e da floresta nacionais diz respeito, dado o desconhecimento e a falta de qualificações das CCDRs para a boa aplicação dos fundos comunitários destinados ao setor. Também “o crónico” atraso nos pagamentos do Programa de Desenvolvimento Rural (no âmbito do Portugal 2020) foi motivo de protesto dos agricultores, que consideram que já deveria estar concluído a 31 de dezembro de 2022, mas apenas 77% do envelope financeiro foi até agora executado.

No seu discurso, frente à Direção Regional de Agricultura do Norte, paragem final desta manifestação, Luís Mira, Secretário-Geral da CAP, frisou que “durante a pandemia que felizmente já lá vai, demonstrámos que a agricultura não pára. Vamos agora demonstrar que a nossa determinação também não vai parar, nem se verga perante o poder político quando ele é incapaz, incompetente e inconsequente. É hora de lutar, é hora de nos fazermos ouvir contra a incompetência de quem nos governa!

Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da CAP, na sua intervenção perante muitos milhares de agricultores, por sua vez instou a que os “agricultores de Portugal, manifestem o inconformismo. A nossa união é a nossa força. A nossa razão tem força porque estamos unidos. Porque não vergamos. A nossa resiliência não é só porque não paramos. A nossa resiliência é porque não nos conformamos com mais esta machadada no nosso ministério. Quase não tem competências na água. Perdeu as florestas, que são a imagem da ruína do país. Perdeu parte dos animais. Agora perde as Direções Regionais. O que é que sobra? Não é capaz de executar as ajudas ao investimento e aos jovens. Não investe no armazenamento de mais água. Não promove a modernização. Basta de tanta incompetência. Manifestemos o nosso inconformismo. Apenas reivindicamos uma coisa: competência!

Na próxima segunda-feira, dia 30 de janeiro, os agricultores voltam a mobilizar-se em nova ação regional.

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